Thursday, October 26, 2006

Morte ou o quanto essa pode ser inerte?

Se há uma coisa que sempre me intrigou, essa coisa foi a morte. Como uma vez escreveu Machado de Assis, "a morte é a única coisa séria na vida". Como sempre vi a vida como uma mera brincadeira, talvez Machado tenha razão, a morte realmente séria e por isso me intriga tanto. Uma vez Woody Allen disse "Não tenho medo da morte, só não quero estar aqui quando ela vier". Acho que compartilho da opinião de Allen. Mas até que ponto é possível ludibriar a morte? Será que poderei ter a chance de jogar uma partida de xadrez com ela ou isso tudo é apenas bergmaniano? As simplificações para hora da morte são encontradas em várias manifestações religiosas e culturais, como na tribo africana que comemora a ida do morto. Ou até mesmo aqueles que morrem como heróis e têm sua morte simbolicamente vinculada a um determinado fato histórico. Mas mesmo assim, ainda fico com Woody, tentarei não estar aqui na hora que ela chegar.

Tentar levar o tema pelo lado do bom humor pode ser uma tentativa patética de fuga, na qual o pathos acaba sendo a propria morte. Em "Intermitências da Morte", Saramago também usa um bom tom para falar da morte. É uma tendência humana dialogar com o fim a cada ano passado em sua vida. Por volta dos quarenta anos, a relação morte e vida aumenta substancialmente e na velhice não existe mais um questionanto e sim uma alternativa perplexa de pensamento já post mortem. A temática e ironia são totalmente aceitáveis em Saramago.

Tanto o espiritismo, quanto outras formas de crenças, fazem uma reflexão do fim da vida. O otimismo é, em grande parte, essencial nessas religiões. O ser é criado o tempo todo para uma hora dar de cara com a morte. Ou seja, a gente vive para morrer, ou como dizem os mais pessimistas schoppenhaurianos, cada dia passado é um dia a menos de vida. Para eles, a cada velinha que você assopra, bye bye mais um dia. Na contramão de tudo isso, os grepos e, posteriormente os árcades, passaram a afirmar que todos deveriam aproveitar melhor a vida, viver cada instante, em uma forma filosófica denominada Carpe Diem. No Carpe Diem, tudo é motivo para se viver, deixando até Doutor Pangloss boquiaberto. Mas e ai, meu chapa? Qual corrente seguir? Talvez nenhuma. Dentre todas essas, fico com o Woody Allen. Certa vez Clarice Lispector fez a metáfora do paradigma infinito e finito como um chicle. Melhor mascar o chicle até quando der e na hora que ele acabar, talvez eu não esteja mais aqui.

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