Flanco esquerdo
Eu sempre joguei bem à frente, caindo pela ponta esquerda, esperando a bola cair nos pés. Certa vez, em dia quente de fevereiro, joguei em Januária, calor de rasgar pele de lagarto.Me isolei na ponta-esquerda, sempre pedindo bola para Tião, molequinho habilidoso que grudava a pelota junto ao pé direito. para arrancá-la era necessário uma foice ou objeto cortante, tamanho controle do Tião.Esperei durante todo o primeiro tempo e nada de receber o passe preciso que me fizesse estufar as redes. Esperei 40 minutos do segundo tempo, quando Tião arrancou da intermediária e após driblar três defensores adversários - um deles portava um cutelo - me ignorou por completo e finalizou no canto do goleiro de camiseta furada.Não comemorei e após 13 anos, 5 meses e 14 dias, ainda me encontro isolado na mesmo flanco do gramado (sem nunca sair de lá, para não ser ludibriado pelo tempo) a espera de um passe do Tião, hoje menos molequinho e mais caminhoneiro. Entre os vários jogos, costumo flertar com as garotas do placar nos intervalos.
1 Comments:
Ficção, realidade, literário, jornalístico. Textos excelentes. Sucesso na vida.
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