Mercador de sonhos
Ao final da rua torta e expressionista ficava uma casa. Bem acima, local onde o vento sempre soprava e as coisas eram efêmeras como a vida. Para chegar até o local era preciso percorrer uma colossal combinação de pedregulhos, aves de rapina e ipês. A temperatura era maluca, podendo acontecer neve e degelo em alguns minutos. O derretimento é capaz de inundar todo o espaço, criando cardumes de arraias, peixes e ervas. As aves rapinas se alimentavam dos peixes e na falta do gelo derretido, praticavam o canibalismo. A plaquinha em cima da porta da casa antecipava a presença de um mercado de sonhos. A caminhada era sombria e difícil.
Tentanto o percurso, seguia Schimmer, cujo pai morrera na guerra e a mãe ficara em Berlim até morrer. Perdera completamente a capacidade de sonhar. O único pesadelo que ele tinha era o de uma perseguição por parte de rinocerontes que o levavam para uma ninhada de escorpiões famintos. Era picado a todo instante e sempre acordava ensopade de suor. O travesseiro sempre ficava dilacerado e ele nunca conseguira entender o real motivo para tudo aquilo. Apenas gostaria de dormir e sonhar.
Aqueles momentos íngrimes pareciam dias de luta contra a chuva, o sol e as aves de rapina, até que a escalada o levasse para frente da portinhola daquela casa aparentemente mórbida. Schimmer tocou a campainha e não obteve respostas. Novamente o silêncio foi mais aguçado, foi mais agudo. Forçou vagarosamente a porta e essa se desfez abruptamente. Sobressaltou-se e adentrou. Era uma junção de formas obsoletas, sombrias e deletérias. Tudo se consumia, os cupins pareciam ser os únicos moradores daquele espaço teatral. A cada passo do jovem cavaleiro errante, as cadeiras de ouro maciço se fundiam e a sala se tornava um grande rio repleto de salmões e andorinhas. Voavam enquanto Schimmer corria.
O teto descaído, aranhas germinando do solo, a nova saleta era praticamente um habitat de brincadeiras horrendas. O chão era um verdadeiro mosaico chinês, onde tudo poderia significar tudo e ao mesmo tempo nada. A alguns metros, um tabuleiro de xadrez no qual as peças jogavam e o bispo era lançado ao magma quente da caldeira latejante da lareira do canto direito.
A medida que o tempo passava, a atmosfera ficava ainda mais densa e a procura pelo velho mercador tornava-se algo inatingível. Um portal imenso refletia a entrada do último cômodo. Entrou apressadamente a procura dos sonhos que perdera ao longo de toda a vida. Ansiava por respostas, por plenitude e repouso. Mas só encontrou rosas que brotavam da parede. Eram vermelhas como o sangue que as vezes escorria pelo telhado. A quantidade de rosas aumentava e Schimmer se encontrava ilhado. Um mar vermelho, um rio de rosas. Passou a questionar tudo, as coisas, a vida, os sonhos, a existência da casa, do mercador, dele mesmo. A roda se movia enquanto o chão se desfazia. Não podendo mais resistir, Schimmer fechou os olhos. Desde então passou a sonhar com um riacho repleto de peixes e com o céu com aves, mas essas não eram de rapina.
Tentanto o percurso, seguia Schimmer, cujo pai morrera na guerra e a mãe ficara em Berlim até morrer. Perdera completamente a capacidade de sonhar. O único pesadelo que ele tinha era o de uma perseguição por parte de rinocerontes que o levavam para uma ninhada de escorpiões famintos. Era picado a todo instante e sempre acordava ensopade de suor. O travesseiro sempre ficava dilacerado e ele nunca conseguira entender o real motivo para tudo aquilo. Apenas gostaria de dormir e sonhar.
Aqueles momentos íngrimes pareciam dias de luta contra a chuva, o sol e as aves de rapina, até que a escalada o levasse para frente da portinhola daquela casa aparentemente mórbida. Schimmer tocou a campainha e não obteve respostas. Novamente o silêncio foi mais aguçado, foi mais agudo. Forçou vagarosamente a porta e essa se desfez abruptamente. Sobressaltou-se e adentrou. Era uma junção de formas obsoletas, sombrias e deletérias. Tudo se consumia, os cupins pareciam ser os únicos moradores daquele espaço teatral. A cada passo do jovem cavaleiro errante, as cadeiras de ouro maciço se fundiam e a sala se tornava um grande rio repleto de salmões e andorinhas. Voavam enquanto Schimmer corria.
O teto descaído, aranhas germinando do solo, a nova saleta era praticamente um habitat de brincadeiras horrendas. O chão era um verdadeiro mosaico chinês, onde tudo poderia significar tudo e ao mesmo tempo nada. A alguns metros, um tabuleiro de xadrez no qual as peças jogavam e o bispo era lançado ao magma quente da caldeira latejante da lareira do canto direito.
A medida que o tempo passava, a atmosfera ficava ainda mais densa e a procura pelo velho mercador tornava-se algo inatingível. Um portal imenso refletia a entrada do último cômodo. Entrou apressadamente a procura dos sonhos que perdera ao longo de toda a vida. Ansiava por respostas, por plenitude e repouso. Mas só encontrou rosas que brotavam da parede. Eram vermelhas como o sangue que as vezes escorria pelo telhado. A quantidade de rosas aumentava e Schimmer se encontrava ilhado. Um mar vermelho, um rio de rosas. Passou a questionar tudo, as coisas, a vida, os sonhos, a existência da casa, do mercador, dele mesmo. A roda se movia enquanto o chão se desfazia. Não podendo mais resistir, Schimmer fechou os olhos. Desde então passou a sonhar com um riacho repleto de peixes e com o céu com aves, mas essas não eram de rapina.
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