Sorriso
Sempre apreciei sorrisos. Largos, arcada dentária posicionada de forma retilínea, perfeição plástica de um momento sublime que não se consegue controlar. O sorriso sai sem que possamos segurá-lo, é espontâneo, às vezes sarcástico ou uma tentativa de se esconder o que a alma muitas vezes chora, lamenta. O belo sorriso cativa, angaria novos sorrisos, numa profusão de dentes e sentimentos ali vividos. Ao contrário de muita gente que conheço, nunca tive um sorriso bonito, daqueles bem bacanas. Dentes fora do lugar, ausência de alguns deles, nunca a posição certa do lábio, sorriso amarelo, tenso, de quem, apesar de tentar, ainda não aprendeu a verdadeira essência de como sorrir bem, sorrir barrocamente, cheio de ornamentos, sorrir sorrindo. Ao mesmo tempo, ele sai tão fácil, sem grandes esforços alguém consegue me fazer sorrir. Uma criança, uma piada infame, meu humor nonsense peculiar, quase tudo. O paradoxal do meu sorriso é que, por incrível que pareça, sei sorrir bastante, ele só não tem o mesmo encanto daqueles sorrisos que me cercam em casa, na rua, no cinema, nos bares, nos dentes, na língua, nos sabores, refrescantes, na vida.
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