Natal e ano novo
Sempre me considerei o paradoxo dos paradoxos. Uma caixa de incoerências ambulante. E no fim do ano a coisa se acirra ainda mais, sempre adorei o Natal, ao contrário de muitas pessoas e, sempre detestei ano novo, ao contrário de muitas pessoas também. Desde toda a família reunida em volta da mesa, minha mãe assando o pernil, enquanto meu pai abre as bebidas, minha irmã recitando versos intermináveis, meu tio contando histórias que beiram o realismo fantástico, minha avó contando coisas quase sempre felizes, minha outra avó mais observando e eu, bem eu já toquei piano, já toquei violão, já fiz teatro e na maioria das vezes, faço o que mais gosto e realizo na vida, eu ouço. Ouço tudo que falam, tudo que contam, as palavras vão se misturando aos pensamentos, como em uma batedeira de bolo, e disso tudo costumam sair alguns textos. Mas, voltando ao Natal, ao redor da árvore, não tanto pelo presente em si, mas pelo segredo, pela emoção de receber, uma sensação indescritível, por mais egoísta que ela possa soar. Desde os tempos em que Papai Noel povoava meus recônditos sonhos até os dias menos românticos e mais nostálgicos.
Mas, toda a magia natalina se faz desfaz no ano novo, pois o paradoxo está de volta e não só de mágica vive o mundo, ele torna-se mais azul escuro e menos colorido, como em um filme de Tim Burton, mas aqui as trevas não têm tanto encanto. Essa coisa de que vai-se um ano e chega-se outro torna-se um clichê que se esvazia e se esvai pela noite de reveillon. A cada cumprimento, o sorriso é falso e se desfaz rapidamente, as pessoas tentam se enganar dentro de vestidos de um tecido qualquer e em seus ternos brancos. Tenho me vestido de preto nos últimos anos não para parecer diferente, mas para tentar ver se as coisas se diferenciam um pouco e para que as lorotas escutadas não se percam entre espelhos e o ralo da pia. A amargura pode parecer chata, arrogante e mais uma vez o egoísmo fica mais evidente que o todo. Como pode o Natal ser tudo e o ano novo nada? Sem nenhum maniqueísmo ou desculpa qualquer, não sei a resposta. Coisa de infância, coisa da vida, texto clichê, cheio de sentimentalismo que se ostenta barato ou se mantém a duras penas, pois não sei se a frase é feita ou se é simplesmente a bengala que sustenta o patético e boçal ou aquilo que as palavras tentaram erguer e soerguer.
Melhor voltar ao Natal, com suas lembranças boas, pois esse está mais próximo e o sorriso sai mais fácil e não se desfaz na velocidade da luz, talvez na do som, pois sempre há o paradoxo dos paradoxos.
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