Monday, November 26, 2007

la rue

no olho da rua, inerte, submerso, quilos e mais quilos em cima da cabeça que parece um tijolo prestes a quebrar, romper, liquefazer o que ainda resta nessa cachola, caixeta encefálica que só se faz doer, encher, romper com aquilo, com todos, se afastar da humanidade, se cercar de travesseiros, cobertores, se encobrir de água, afogar no deleite de pensar que consegue tudo e tão logo perceber que nada é possível, dormir é preciso, viver não é preciso, padecer sob Pilatos, ser morto, crucificado, pedir pra nascer de novo, sem ter que descer ao inferno, pois por vezes ele é aqui, é agora, os pés queimando, burning, man, that's all folks, é isso aí galera, reclamem enquanto há tempo, tell your neighbor, ele nem quer saber, então, o que resta são os muros sujos da cidade noturna, cheios de teias, tetos, ratos, sapatos velhos, mas não há como fugir, como esconder, só resta naufragar, ver que o sentido não existe, ver que o fim ainda está longe, perceber que se não deu certo é porque ainda não se chegou ao final, ou não, sei lá, ausência de ponto, que seja de vista, perda do bom senso, se é que isso existe, querer sumir, deitar, chegar ao REM, três vezes ao dia, receita do doutor, revotril está aí para isso mesmo, tomai todos e bebei, o sangue já jorra e você nem faz idéia de onde vem, aonde escorre, desce, navega, se for preciso, é claro, nem sempre é conveniente, por ora, talvez o melhor seja encarar o meio da rua, passos largos rumo ao nada, sem rumo, é vero, sem transe, sem transa, sem amor, sem chão, sem ar, sem mar, inerte, parado, esperando o ônibus que não passa mais, que um dia vem, que um dia volta, que um dia acerta, e esse dia chega, tomara, sem precisar de fitinhas do Senhor do Bonfim ou de mantras visionários, o jeito é continuar aguardando, até quando, isso nunca se sabe

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