Saturday, August 25, 2007

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Se me perguntassem agora quantas horas são, diria que a pergunta veio antes da hora.

Thursday, August 16, 2007

De Bucareste a Argel

Não obstante ao fato de estar desempregado, não se cansava de ir à Rua Uruguai para observar, pelo diminuto buraco do muro, as mulheres que se banhavam na piscina tão limpa devido sua quantidade certa de águas claras. Havia uma ruiva, sardentinha, cujos seios afloravam da puberdade recém abandonada. O olhar, encantado, acompanhava o movimento esplêndido para o finquete nas águas claras. Levantada apressada e o frio da piscina enrijecia aquilo que os olhos não deixavam de acompanhar - só abandonavam tal visão para se mimetizar nas bem distribuídas partes glúteas de uma loirinha de cabelos compridos e seios à mostra. Encantavam-lhe as leves proporções disformes daquilo que por ora se configurava como objeto pleno de desejo. As formigas, que seguiam seu caminho religioso, pousavam na carne nua da perna do homem, que apenas levava a mão esquerda para coçá-la, logo após cada uma das picadas. Formava-se ali um rosado típico, sem que no entanto o tirasse do ato observatório, da áurea enganosa de achar que a vida se resumia a passar o tempo encostado com o olho esquerdo no muro.

Rebeldezinha era uma mais nova, na flor do início da idade do desabrochar. Intempestivas eram suas ações, o sol batizava a pele pálida de argelina que era. O reflexo do sol na piscina atingia sua côxa direita. Blow-up, ça c'est vrai, era verdade que estava prestes a explodir internamente. Não havia línguas, sons, imagens, sentia-se um forasteiro diante da terra vislumbrada. O frescor da primeiras idades após o período adolescente faziam contraposição os fios de cabelos escassos na parte superior traseira da cabeça. Os joelhos, mal acomodados, já escorriam em sangue coagulado perante um tempo longe de ser exíguo. Lembrava-se da época em que esperava o trem chegar na estação para pegar pães, feitos de abelhas, trazidos do Panamá e que na embalagem traziam figurinhas de jogadores profissionais da Liga Americana de baseball. Eram, curiosamente, os jogadores panamenhos os que mais admirava. Acalentavam a memória os tempos de outrora em que trocou um dessas figuras pela oportunidade de sentir junto as mãos a presença dos seios da prima e como ficara decepcionado e como quisera de volta o melhor rebatedor da época, entretanto, sem sucesso. Restou ficar sentado no banco da Praça Irmãos Wright, observando a apresentação desses vendedores de porta-em-porta.

As reminiscências o envolveram de tal forma que não foi possível observar a chegada de um rapaz jovem, vestindo com uma bermuda colorida e com uma camisa regatas que ressaltavam triceps e biceps obtidos após horas a fio nos aparelhos de supino e voador de alguma academia suja de subúrbio de cidade grande, onde também treinavam futuros boxeadores que possuíam um excelente contra-golpe de esquerda, mas cujo gingado pouco funcional seria suficiente para fazer com que cada um deles logo beijasse a lona. Com certeza era um deles, esguio, mas com auto-confiança em excesso.

Foi tomado por um susto enfadonho, mas não quis demonstrar insegurança e logo fez questão de fingir não ter acontecido nada. Para tanto, ajeitara o cabelo com um pente vagabundo de camelô e em seguida olhara para o relógio como quem quer saber imediatamente as horas.

"Gostosinhas, não são?", a pergunta trouxe traços não muito agráveis à face de quem há horas observava aquele desfile de músculos perfeitos e bem torneados. Fingiu não escutar.

"Já estive com duas dela, são realmente fogosas e macias." Essa afirmação funcionara como um cruzado de direita direto no queixo. Sentia-se desnorteado, não lhe entrava pela cabeça pensar no ultraje que seus ouvidos acabavam de constatar.

"A romena não sabia uma palavra da nossa língua, mas sabia gemer na hora certa, sem sobras." Percebeu tão logo a provocação. Sentia uma angústia como no dia em que usara uma gilete para depelar o gato siamês da visinha e que logo após foi descobrir ser o responsável por comer grande parte das ratazanas do bairro. Após a morte do bichano, a casa da mãe fora invadida por uma ninhada completa de roedores que comiam desde as cortinas indianas até os queijos de cabra armena que eram bastante cultuados na década de setenta e que tinham como anunciantes no Brasil o ator Nuno Leal Maia e o Zenon, jogador do Guarani de Campinas.

"A loirinha é romena também, de Bucareste, mas morou um tempo na África Nortista e veio para cá com o pai comerciante de pedras preciosas. Movimenta sempre os pés na hora certa e após o ato, adormece após tomar Prozac", já não entendia mais o objetivo de todas aquelas informações. Fingia continuar a olhar a cena matinal em volta da piscina, mas uma névoa imprimia aos seus pensamentos esquilos que escalavam pouco a pouco uma árvore até que essa ficasse infestada dos mesmos e mudasse de cor devido tamanha presença dos bichinhos. Sentia-se uma anfíbio que pensava ser capaz de abandonar completamente a água por se sentir deveras seguro na terra. O raciocínio está na iminência de se enclausurar em uma redoma de freiras canadenses jogadoras de rúgbi. Foi quando o alerta vermelho foi ligado.

"A argelina posso arranjar para você. Tenho um amigo que trabalha no jogo do bicho e que a conhece. Dizem que ela é capaz de fazer tudo que ele a pede. ela não costuma recusar propostas", o monólogo chegara a um ponto crucial, a proposta era tentadora, mas a concordância seria vil. Sentia-se atentado, rezou por quarenta dias no deserto, mas a tentação era forte. O cálice venenoso portava um líquido grená. O desejo era de sorvê-lo, todavia, era preciso resistir. O desemprego já deixava o pai preocupado, fazendo-o lembrar dos tempos dificeis nos quais vendia pipas feitas com pele de cachorro - sem que ninguém da vizinhança soubesse.

Resolveu recusar, mas voltara para a casa com o pensamento envolto em uma nuvem do tipo das que podem ser vistas nos céus italianos, principalmente em Firenze. Era ao mesmo tempo um céu claro, mas disperso por essas nuvens. Não conseguira dormir durante toda a noite. Resolvera ir até a geladeira comer o restante do quiabo afogado no almoço. A baba fria atingia a língua e descia ríspida goela abaixo. Era pior que um pesadelo.

Voltara no outro dia para o muro. Trouxera uma camisa velha para ser usada como apoio para os joelhos. Dobrou uma manga em cima da outra e ajeitou o tecido no chão para em seguida acomodar as rótulas. Ainda não haviam chegado as moças. Após dez minutos avistou a omoplata da ruiva que chegara para o banho tendo apenas uma toalha enrolada nos bem estruturados quadris. As outras não tardaram a chegar, alvas e garbosas. Após um certo tempo, chegou no local, novamente de bermuda esprimida e camiseta regatas, o rapaz. Após aquele instante passaram a observar diariamente o banho das duas romenas e da argelina. Enquanto isso, trocavam algumas palavras, comiam queijos (aqueles mesmos de cabra armena) ao mesmo tempo em que bebiam leite empacotado na Patagônia Argentina. Diziam não ter conservantes e também fazer bem para os rins.

Saturday, August 04, 2007

Aniversário

E há um atrás o Cinecaolho retornava das trevas para recomeçar seus trabalhos pseudo-intelectuais. Parabéns pela sobrevida, mesmo diante do marasmo atual.