Friday, March 28, 2008

nutella

há dias em que o despertador toca e é arremessado para terraço. e nesses dias dá pra ver que nimbus estão no teto e no elevador - e fica frio só até a porta abrir, aí você sai de lá.

e dá meio que vontade de concordar que elogiar tudo é bobagem e que, quando menos se espera, o tabuleiro de xadrez fica armado e sua rainha já era - talvez por ter agendado um encontro com o bispo, porque com o cavalo seria querer demais, não vou partir para coisas obscenas aqui, tá bom?

como tenho paciência para atender o telefone - até ligações a cobrar. eu atendo e a ligação é encerrada tão logo eu esboço um alô - e vem na conta essa porcaria. mas eu atendo assim mesmo, é minha maneira de ser altruísta, de amar o próximo, um pouco diferente da maioria dos vegetarianos radicais amar o próximo - eles amam de forma carnal.

finalmente, aquelas moças que estudam sociologia, dão em cima do professor de antropologia moderna e que têm vocação para o anonimato, como dizia o velho francis.

melhor babar no travesseiro até que as mulatas e rainhas de bateria do salgueiro invadam meu quarto, sambando ao som de chopin, enquanto todo mundo se lambuza de nutella.

Wednesday, March 19, 2008

carta

No front em frente ao lado esquerdo daquilo que ficou convencionado esquerda do mundo, longe e gelado, grande, continental, tentando escrever uma carta para quem no continente também está, um pouco de água é bem verdade, mas pouquinho, balsa ou baldiação talvez resolvam; carta de começo meu bem, te amo e quero te ver, mas só vejo escuro, escuridão de palavras no papel arranhado do front, dos barulhos que me impedem de achar o melhor para essa carta que é escrita em momentos de exércitos combatentes que fazem da neve vermelha, róseo como a rosa que queria mandar-te, mas vidros cortam as rosas e as rosas cinzas não são tão boas de se oferecer, ainda mais para ti que não pode ver o espaço metálico, céu de estrelas esfumaçantes e o pó invade e impede a carta de seguir, do tiro do além, luz que não se quer ver, se sente de impacto que é, tempo de sono e pesadelo, visão duplicada e a esfera implacável do dúbio pensamento de lutar ou entregar, se é que a carta vai ser entregue até o amanhecer ou se fica ali, confundida no meio de estranhos estrangeiros ou nas bacias que limpam o que já se sujou demais, menos o amor, que brota de tudo, até de pedras ou dos sons mistos do fim das coisas que sempre dão início a outras, círculo de fogo e de gênese. O grafite acaba, traz o amor e o dia acaba de raiar.