Thursday, October 25, 2007

La Vie Cotidienne

Às vezes cogito fazer análise; ao mesmo tempo, paro para pensar e percebo que muito psiquiatra dorme no próprio divã e leu menos Freud que eu. Nesse caso o melhor é ficar em casa jogando ping pong com a parede. Encosto a mesa na parede e saco e por vezes sou surpreendido por uma recepção boa que vem do outro lado. Meus saques com efeito já não surtem o efeito de antigamente, o estalo na parede é sinal de que vem chumbo grosso do outro lado. Já tive duelos interessantes em muitas tardes. Jogo até cansar e, après, eu volto para a cama para ler Stendhal ou Tom Wolfe. Tom Wolfe me dá vontade de comer cookies. Levo o pacotinho para a sala, enquanto a raquete fica encostada na parede. Por vezes, resolvou retornar minhas sessões Fritz Lang, tenho revisto todos os filmes dele e passo a enxergar o mundo em preto e branco. Nada mal isso. Quem tem Tom Wolfe, Lang, cookies e a parede, por ora, não precisa de análise, a não ser que a psiquiatra seja uma morena bem bonitona.

Tuesday, October 23, 2007

Jodie in my dreams

http://www.youtube.com/watch?v=7YPJIDWay4A

(Veja o vídeo acima, não aprendi como postá-lo ainda)

Não tenho grandes dúvidas de que ela foi uma das responsáveis por eu gostar tanto de cinema. Acho que já gostava dela antes de gostar do próprio cinema. Agora não tenho dúvida alguma em dizer: foi por causa dela que eu aprendi inglês. Vi esse filme Backtrack no começo da década de 90, seguido por Silence of the Lambs. Eu tinha por volta dos meus dez anos, talvez onze. Antes disso via western com meu pai, mas era ainda jovem e Natalie Woods não me despertava desejos. Jodie Foster me iniciou em um mundo de instintos carnais: aos treze anos revi os dois filmes e minha inocência da época de Wayne já estava arrasada, o cinema agora me fazia voltar a fita de VHS várias vezes. Acho que já vi essa cena mais de 200 vezes, certa vez aluguei o filme só para revê-la - a cada vez que Jodie esticava a meia ao longo de suas pernas, eu, guiado por meus instintos, ia até o videocassete para rebobinar tudo e rever novamente. Ninguém consegue falar inglês de maneira tão sexy quanto Jodie Foster, as terminações vocálicas são entonadas por uma língua que levemente toca os dentes, por mais que Circe nos alerte, Jodie faz das palavras canto e nós, pobres coitados, somos Ulisses. Eu necessitava saber o idioma saxão para poder me envolver com Jodie. Aos trezes anos a maioria dos meus colegas de escola tinha alguma menina da sala como alvo de desejo, eu tinha Jodie. Aos 12 aprendia a conjugar os verbos to be and to have, e aos 14 I was ready to talk with my girl. Nessa cena, estou no lugar do Dennis Hopper e até hoje interpreto suas falas e faço os movimentos enquanto Jodie me provoca com a meia-calça e a cinta-liga.

Thursday, October 04, 2007

Flanco esquerdo

Eu sempre joguei bem à frente, caindo pela ponta esquerda, esperando a bola cair nos pés. Certa vez, em dia quente de fevereiro, joguei em Januária, calor de rasgar pele de lagarto.Me isolei na ponta-esquerda, sempre pedindo bola para Tião, molequinho habilidoso que grudava a pelota junto ao pé direito. para arrancá-la era necessário uma foice ou objeto cortante, tamanho controle do Tião.Esperei durante todo o primeiro tempo e nada de receber o passe preciso que me fizesse estufar as redes. Esperei 40 minutos do segundo tempo, quando Tião arrancou da intermediária e após driblar três defensores adversários - um deles portava um cutelo - me ignorou por completo e finalizou no canto do goleiro de camiseta furada.Não comemorei e após 13 anos, 5 meses e 14 dias, ainda me encontro isolado na mesmo flanco do gramado (sem nunca sair de lá, para não ser ludibriado pelo tempo) a espera de um passe do Tião, hoje menos molequinho e mais caminhoneiro. Entre os vários jogos, costumo flertar com as garotas do placar nos intervalos.