Sunday, May 18, 2008

donos da noite, dia vem e com ele a anomia citadina

flâneur: o que sou no obscurantismo das fachadas da cidade em madrugada fria de ruas largas de carros luminosos e vida farta e desocupada. no fundão quase imperceptível das horas pontuais de quem chega, observa e cruza, espaços cruzados por linhas difusas, seja de ônibus, rotas marítimas do oceano citadino. noite de olhar atento, grunhidos falseados na moribunda hora em que a sombra é opaca, sim, tão opaca sob orientação ora crepuscular ora provocada pelo pilar maior do fornecimento de energia urbana. na conjuntura noturna, esses postes de luz ganham vida, se vistos pela janela gélida repleta de digitais da jornada que acabar de ocorrer. o chão desapropria criaturas que procuram na falta de estirpe sua identidade inexistente. nômades fixados pelo destino, raiz disforme de quem deseja apenas estar, pois ser não é mais emplacável. cães e gatos que se misturam ao flash do instante, efêmero no olhar do flâneur e duradouro na carne de quem fica. donos da noite sem propriedade privada, autônomos fundamentais e não por opção. dos olhos presos, vermelhos, noturnos, a certeza do retorno, ele existe, mas o que fica, por vezes, fica marcado, flâneur sim, até a última curva, último espaço, a porta se abre e a cama está logo ao lado, basta esparramar-se. a solidão madrigal se dissolve como açúcar, o sol acalenta e tortura com sua emissão radial. mas os anônimos ainda são anônimos mas agora não são mais vistos dentro do caos que por ora se instaura.